Empresas estão incluindo a neurodiversidade nas políticas de contratação. Entenda o termo e a importância em contratar profissionais neurodiversos!
(Foto: JohnnyGreig via Getty Images)
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8 min
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1 abr 2022
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Sabrina Bezerra
02 de abril é o Dia da Conscientização do Autismo. Mas o artigo de hoje não é apenas contar sobre a data, e sim questionar: quantos profissionais autistas fazem parte do quadro de trabalhadores da sua empresa?
Pode parecer uma pergunta simples, no entanto, o assunto é bem sério: “atualmente, vários estudos confirmam que 1 em cada 68 pessoas é diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista e, dentro desse coletivo, a taxa de desemprego é de 85%”, diz a Specialisterne, empresa especializada em incluir pessoas neurodiversas no mercado de trabalho.
Para mudar este cenário, empresas estão incluindo a neurodiversidade (entenda sobre o termo ao longo deste texto) nas políticas de contratação. Alguns exemplos são a IBM, o Itaú e a SAP que incluíram ainda mais no quadro de funcionários pessoas com autismo, transtorno de déficit de atenção, entre outros.
Trata-se de um conceito que diz que condições como dislexia, dispraxia, Transtorno do Espectro Autista e Transtorno de Déficit de Atenção são diferenças neurológicas que devem ser reconhecidas e respeitadas (assim como outras diferenças como de gênero e racial), e não devem, portanto, serem tratadas como anormalidades.
“O conceito foi criado na década de 1990 por Judy Singer, socióloga australiana e portadora da Síndrome de Asperger. Ela trouxe para a discussão que o autismo e outras condições neurológicas não devem ser consideradas como patologia. Pois nada mais é do que uma variação natural do ser humano”, diz em entrevista à StartSe Marcelo Vitoriano, CEO da Specialisterne Brasil.
“A sociedade precisa entender que não existe cura, e sim acolhimento e inclusão de pessoas neurodiversas — e é isso que a gente leva para as empresas”, completa Vitoriano.
Primeiro, é importante analisar toda a experiência da empresa — do anúncio à vaga a inclusão do profissional no ambiente de trabalho.
“Isso porque, muitos processos seletivos que existem hoje são excludentes para pessoas neurodiversas. Por exemplo, imagine uma pessoa autista que não tem a skill de comunicação verbal, mas uma das características da vaga é justamente essa. Automaticamente, a pessoa autista é excluída — mesmo tendo todas as outras habilidades”, diz Vitoriano.
Outro exemplo que o executivo conta é a dinâmica do recrutamento. “Se o processo for em interação em grupo, algumas pessoas neurodiversas podem ter um pouco mais de dificuldade para isso. Portanto, é importante que já nesta primeira etapa, a companhia repense o processo seletivo para deixá-lo mais inclusivo.”
“O desafio mais comum é conseguir entender as diferenças entre cada pessoa neurodiversa e a partir daí conseguir se adequar de acordo com cada perfil”, me contou Flauberto Leite Lima, consultor técnico em TI e neurodiverso. “Mas todos me chamam de Flaubert”, completa.
Mas além disso, após a contratação, é preciso incluir o profissional no ambiente corporativo. “Há casos onde é necessário, por exemplo, que o colaborador precise fazer uso de fones de ouvido de modo a poder ter um maior foco durante suas atividades”, diz Flaubert.
"Já em outros casos, é preciso que se tenha uma rotina bem definida das atividades, já que mudanças podem causar desconforto em alguns casos. Há também situações em que as instruções do que deve ser feito precisam ser passadas de uma maneira clara, para que não haja uma interpretação equivocada da parte do colaborador neurodiverso em realizar essas atividades”, afirma o especialista em TI.
E o que o gestor deve ficar atento? “Os líderes devem ter em mente que as pessoas neurodivergentes são únicas. (...) Cada indivíduo requer um nível diferente de apoio e compreensão. Cada um também contribui com suas próprias habilidades e benefícios únicos para a empresa. Semelhante a qualquer local de trabalho diversificado, cada funcionário (neurodivergente ou não) deve ser caracterizado pela sua própria individualidade, ao invés de um diagnóstico ou grupo com o qual se identifica”, diz em comunicado um profissional autista da IBM. “As pessoas neurodiversas devem ser acolhidas de forma natural”, afirma Vitoriano.
Como abordado no começo deste texto, as empresas começaram a adotar novas políticas de diversidade, com foco na contratação de profissionais neurodiversos, e a tendência é aumentar este ritmo.
“Afinal, a contratação do profissional neurodiverso, agrega ao time como um todo. Por exemplo, companhias que adotam este tipo de política conseguem ter melhores resultados e aumentam a performance da equipe como um todo", diz Gláucia Ribeiro, Gerente de Marketing da Specialisterne Brasil.
Para você ter uma noção, segundo uma reportagem do The Guardian, pesquisas da Universidade de Montreal sugerem que pessoas neurodiversas são até 40% melhores na resolução de problemas. “Mas não só a performance que deve ser visada, e sim toda a importância da diversidade e inclusão — e o ESG nos mostra isso”, diz Gláucia.
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Sabrina Bezerra, head de conteúdo na StartSe, possui mais de 13 anos de experiência em comunicação, com passagem por veículos como Pequenas Empresas & Grandes Negócios e Época Negócios, ambos da Editora Globo.
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