O olhar para os escritórios deve rever sua função em tempos pós-home office, diversidade e qualidade de vida, focando em retenção de talentos
Escritório claro com dois homens de pé (Foto: Ezra Bailey/Getty Images)
, Jornalista
12 min
•
4 ago 2022
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Por Camila Petry Feiler
A pandemia desenhou novos cenários possíveis aos escritórios, mostrando que o futuro do trabalho já está entre nós. Tanto que agora, vive-se a crise do volta ou não ao presencial e o questionamento de qual modelo funciona melhor.
A gente sabe, a realidade de cada negócio e função precisa ser levada em conta, mas fato é que a planta dos escritórios precisa ter um design alinhado a seu propósito de existir, se tornando um espaço cativo para acolher as equipes, atrair e reter talentos e manter a cultura pulsante nos colaboradores.
Elon Musk, CEO da Tesla, diz que sim. Já o Airbnb adotou o anywhere office para sempre, dispensando os funcionários da necessidade de estar presencialmente. Mais do que certo ou errado, está em jogo a qualidade de vida, elemento que se tornou chave para os colaboradores.
Roberta Vasconcellos, CEO da BeerorCoffee, elenca em entrevista ao PMEx, da StartSe, que a pandemia favoreceu um mindset onde o trabalho é incluído na vida e não o contrário. Dessa forma, o trabalhador pode morar em qualquer lugar e não mais perto do escritório ou ter que passar horas de deslocamento.
+ Reunião no metaverso: como as empresas estão usando
Por isso, o desafio é entender qual o papel deste local para a empresa e para os funcionários. Nathalya Nascimento, fundadora da Anywhere, startup baseada no Vale do Silício que trabalha com recrutamento global de tecnologia, explica o que tem visto: as empresas rodando pesquisas para entender o que as pessoas querem quando se trata de modelo de trabalho.
Nestes levantamentos, ela viu que a necessidade do espaço do escritório muda conforme a posição: “para uma pessoa sênior é muito confortável trabalhar de casa, mas para uma posição de estágio ou junior, é mais complexo. Você vai querer conversar com uma pessoa, trocar, mas se você não está no escritório, você não consegue.”
Quando se trata de cargos de liderança, a experiência de Nathalya aponta uma preferência. “”Elas gostam do formato híbrido, porque elas conseguem continuar oferecendo a opção para as pessoas que querem trabalhar remotamente e o senso de time continua. Então quando eu falo para a liderança que é híbrido, tá tudo bem.”
Mas o cenário muda ao chegar em tecnologia -- área que já buscava posições remotas antes mesmo da pandemia. A especialista na área diz que, honestamente, a tecnologia deve ser tratada como um caso à parte: quer trabalhar remoto? Trabalha e pronto. “Hoje, na área de tech, 100% dos meus clientes trabalham de forma remota.”
Ao longo da pandemia, Paôla Borges, líder de Novos Negócios na John Richard, empresa de assinatura de móveis para escritórios e residências, idealizou o projeto Mesa. O objetivo era exatamente discutir o futuro do trabalho, pensando como os espaços precisam ser transformados para atender à nova realidade. Afinal, nós mudamos, a forma de trabalhar mudou e o papel do escritório também. “Os espaços corporativos assumem a responsabilidade de conectar pessoas, promover o trabalho colaborativo e ser um ponto de cultura. Tudo isso integrando gerações e viabilizando produtividade”, explica Paôla.
Inclusive, comentamos aqui a visão da Geração Z sobre os escritórios e o futuro do trabalho, dá uma olhada.
Para Nathalya, o plano de comunicação do retorno aos escritórios mudou, os RHs estão mais estruturados e tem sido bem interessante. “A gente tem vendido o escritório como se fosse um hub de inovação, não como se fosse uma coisa ‘aqui é nosso escritório, vem trabalhar’, mas sim um lugar pra gente se encontrar e aprender. Afinal, as ideias vem quando a gente tá se conectando, conversando.”
Isso faz com que a preocupação com escritórios descolados diminua -- menos mesa de sinuca, espaços coloridinhos e mais preocupação com o bem-estar de verdade. Nicolaos Theodorakis, fundador e CEO da Noah, startup que oferece solução tecnológica para construção civil com estruturas em madeira, explica que a presença de elementos naturais aumenta a produtividade e o bem-estar, além de melhorar os níveis de estresse, minimizar o absenteísmo e proporcionar maior concentração.
“Sendo assim, a construção em madeira engenheirada é biofilia na veia, como costumamos falar na Noah, já que a madeira está presente na estrutura da edificação. Ela agrega além da produtividade, concentração e a sensação de bem-estar, um estímulo à conectividade e à inovação”, comenta Nicolaos. Logo, quanto mais tecnológicos nos tornamos, mais voltados para a natureza precisamos estar.
Para ele, já que “já que precisamos, eventualmente, estar no escritório, o espaço físico necessita ser estético, ergonômico, com projetos lumínicos adequados e que proporcione uma boa experiência, bem-estar e saúde aos usuários.”
Todos esses elementos compõem o escritório do futuro, que também deve ser “flexível, ágil e sustentável, viabilizando que o negócio acompanhe os movimentos do mercado e adaptável para atender as necessidades das pessoas. Ele é flexível e plural, tendo variados ambientes de trabalho de modo que o talento ou squad com base na atividade a ser executada escolha o ambiente que atenda tecnicamente, favorecendo sua entrega e a produtividade da empresa. Haverá locais para concentração, colaboração, cultura corporativa e conexão”, explica Paôla.
E Paôla toca em um ponto fundamental para Nathalya quando se trata de acolhimento no presencial: “a gente fala de trabalho remoto, mas a gente não enxerga o recorte de diversidade. A Natura tem uma estrutura que é uma creche para que os pais possam deixar os filhos. Quando eu penso em casa, não tem nada que me faça pensar mais nesse recorte do que poder deixar meus filhos lá.”
Por isso, Nathalya identifica que pessoas diversas preferem o trabalho híbrido, “porque elas não tem uma estrutura em casa que permita o trabalho remoto. Quando a gente fala de tech, a maior parte das pessoas não é diversa, então esse é um pilar importante.”
Ao deslocar as pessoas do escritório, existe uma nova percepção de mundo -- econômica, afinal, não se gasta mais para comer fora, por exemplo, de tempo e de relações (seja o impacto na relação com a família ou a falta da integração com os colegas de trabalho).
Ainda assim, abre-se um leque de opções para que as pessoas descubram o espaço que proporciona maior criatividade, produtividade e espaço para somar com tecnologias e integrações diferentes do que estamos acostumadas no escritório.
O que vale, no fim das contas, é entender o que funciona melhor para cada negócio e para cada pessoa. Nathalya destaca, inclusive, a importância de manter o recorte da diversidade e ouvir todo o time, não só a visão da liderança.
Para Paôla, “o executivo inteligente é aquele que, neste momento, busca oferecer um ambiente de trabalho diferente do que existia antes da pandemia, isto é, menos mesas, mais descompressão. Um escritório que prioriza o colaborador colhe bons frutos de motivação da equipe, aumento do bem-estar e da produtividade. Por isso, cada vez mais os espaços corporativos são mais plurais que oferecem áreas de lazer e descanso aos profissionais, além da adoção do modelo híbrido.”
Dessa forma, a empresa começa a entender como entregar um espaço mais acolhedor para os encontros presenciais, mantendo uma dinâmica que promove o encontro, a colaboração e cocriação, garantindo que as pessoas queiram voltar ao presencial. Afinal, agora os escritórios estão competindo com a sensação de estar em casa.
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Jornalista focada em empreendedorismo, inovação e tecnologia. É formada em Jornalismo pela PUC-PR e pós-graduada em Antropologia Cultural pela mesma instituição. Tem passagem pela redação da Gazeta do Povo e atuou em projetos de inovação e educação com clientes como Itaú, Totvs e Sebrae.
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