Marc Benioff, CEO da Salesforce, mudou sua visão sobre o trabalho remoto. Além da Salesforce, veja como outras bigtechs estão lidando com isso
Escritório da Salesforce em Atlanta (foto: divulgação/Salesforce)
, jornalista da StartSe
8 min
•
29 mar 2023
•
Atualizado: 19 mai 2023
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A Salesforce foi uma grande apoiadora do home office durante o período mais crítico e mais brando da pandemia. Em 2021, ela adquiriu o Slack (por US$ 28 bilhões) para “construir uma sede virtual onde as organizações possam atender às demandas dos clientes e dos funcionários em qualquer lugar”, segundo disse Marc Benioff, CEO da Salesforce, no anúncio.
Desde o início do trabalho remoto em escala ao redor do mundo, a Salesforce vinha lançando estudos que apontavam positivamente à novidade. Mas Marc Benioff, CEO da companhia, está virando um grande defensor do trabalho presencial.
Para começar, alguns funcionários da Salesforce estão sendo obrigados a voltar ao trabalho (ou iniciar) nos escritórios. Enquanto isso, o Slack possuía um fórum de estudos trimestrais sobre o futuro do trabalho que acompanhava o status geral do trabalho híbrido ou 100% remoto. Eu digo “possuía” pois o projeto foi extinguido agora, no fim de março.
Em 2020, no estudo “Série Global Stakeholder – O Futuro do Trabalho, Agora”, a empresa apontou que 52% dos entrevistados (de vários países, como Alemanha, EUA, Brasil, Canadá, Singapura, entre outros) disseram que trocariam de emprego se isso significasse que poderiam trabalhar remotamente. Esse foi apenas um dos estudos da Salesforce que apontou positivamente nessa direção.
A aquisição do Slack em 2021 também apontou que a empresa apostava no trabalho híbrido, passando a concorrer com o Google e Microsoft no serviço de mensagens corporativas. O que será que mudou?
Eu trouxe o histórico da Salesforce/Slack para mostrar o quão surpreendente está sendo essa mudança de postura. Recentemente, em um documento, Marc Benioff, CEO da empresa, escreveu que, durante a pandemia, “a cultura do bem estar dominou a cultura de alta performance” (isso após demitir cerca de 10% de seu quadro de funcionários e fechar alguns escritórios em janeiro deste ano).
Em março, Benioff disse em um podcast que ele “sabe, com experiência, que novos funcionários performam melhor se estiverem no escritório, conhecendo pessoas, passando pelo onboarding e sendo treinados”.
Ele ainda acredita que as empresas não devem colocar o trabalho presencial como mandatório, mas “mostrar aos funcionários cinco razões pelas quais eles devem voltar aos escritórios”. Tudo depende da função – na Salesforce, engenheiros devem comparecer “ao vivo” apenas dez dias por trimestre, enquanto as áreas administrativas devem estar semanalmente às terças, quartas e quintas.
As demissões apontam que as contas da Salesforce não estão exatamente muito boas no momento. No anúncio do layoff em uma carta aos funcionários, Benioff disse que “nossos clientes estão adotando uma abordagem mais ponderada em suas decisões de compra”. A empresa planeja cortar cerca de US$ 3 bilhões a US$ 5 bilhões de custos neste ano.
O principal produto da empresa é um software de CRM, ou seja, um sistema online para gerenciar vendas e relacionamento com clientes. “Como nossa receita acelerou durante a pandemia, contratamos muitas pessoas levando a essa crise econômica que estamos enfrentando e assumo a responsabilidade por isso”, afirmou o CEO na época. A companhia ofereceu um pacote de apoio generoso, que incluiu o pagamento de cinco meses de salário aos funcionários demitidos (isso não é comum nas leis trabalhistas dos Estados Unidos).
A pesquisa “State Of Remote Work” realizada pela Buffer neste ano apontou que os funcionários não desejam o fim do home office.
Vamos falar de números: 98% dos entrevistados desejam trabalhar remotamente pelo resto de suas carreiras; 22% dizem que o maior benefício do trabalho remoto é a flexibilidade na forma como gastam seu tempo e cerca de 28% das pessoas gostariam de trabalhar no modelo híbrido. Confira a pesquisa completa.
Mas não é apenas a Salesforce que está remando na contramão disso. Outras bigtechs têm comportamentos semelhantes - algumas há algum tempo.
Em agosto de 2022, a Apple pediu que os funcionários voltassem a frequentar os escritórios pelo menos três vezes na semana: às terças-feiras, quintas e outro dia aleatório que seus líderes desejassem.
Em contrapartida, alguns funcionários assinaram um abaixo-assinado contra a medida e argumentaram que os times haviam feito um trabalho excepcional mesmo em casa, devido à pandemia.
E aqui a situação fica complicada: a jornalista Zöe Schiffer disse que a empresa estaria analisando a frequência dos funcionários nos escritórios através do histórico de seus crachás. A Apple negou que isso estaria acontecendo.
As empresas figuram juntas porque são comandadas pela mesma pessoa: Elon Musk. O CEO da Tesla já havia erradicado (e protestado contra) o home office há algum tempo. O trabalho híbrido não é uma opção na montadora de veículos elétricos…
E também deixou de ser no Twitter desde que a rede social foi comprada por Musk. Até julho de 2022, o trabalho de casa era o principal regime da empresa. Em novembro, deixou de ser – aparentemente, para sempre.
Após anunciar a segunda demissão em massa da Meta, Mark Zuckerberg reforçou que “quem trabalha presencialmente é mais produtivo”. Ele encorajou que os funcionários encontrem seus colegas face a face – mas essa ainda não é uma obrigação.
Após demitir cerca de 30 mil funcionários, a Amazon também pediu aos colaboradores a frequência de três dias por semana nos escritórios. A medida entra em vigor em 1 de maio e Andy Jassy, CEO da companhia, disse que isso “incentiva uma melhor colaboração e cultura da empresa”.
“Não é simples trazer milhares de funcionários de volta aos nossos escritórios em todo o mundo, então vamos dar às equipes que precisam fazer esse trabalho algum tempo para desenvolver um plano”, escreveu Jassy na mensagem. “Sabemos que não será perfeito no começo, mas a experiência do escritório melhorará constantemente nos próximos meses (e anos).”
Os anúncios de retorno aos escritórios nas bigtechs estão frequentemente associados à demissão em massa. Elas também têm em comum resultados ruins. Ainda que elas não culpem o trabalho híbrido diretamente, e sim o cenário macroeconômico, essa pode ser uma medida para remediar o que talvez não seja a causa do problema. Vamos aguardar.
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, jornalista da StartSe
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. Apresenta o podcast Agora em 10 na StartSe e também atua na área de Comunidades na empresa. É especialista em inovação, tecnologia e negócios.
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