Saiba como funciona a semana reduzida de trabalho nas companhias que já adotaram a modalidade, quais são as vantagens e as desvantagens e o que diz a legislação!
(Foto: PeopleImages via Getty Images)
, jornalista
15 min
•
13 jul 2021
•
Atualizado: 19 mai 2023
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Recentemente, saiu o resultado do experimento da semana de 4 dias de trabalho no Reino Unido: reduziu o burnout, aumentou produtividade e aumentou a receita da empresa. O estudo foi feito no Reino Unido com 61 empresas e 2,9 mil funcionários. Até o momento, esse é o maior experimento já feito sobre a semana mais curta de trabalho (confira mais adiante sobre o início do programa).
O resultado da pesquisa feito pela organização sem fins lucrativos 4 Day Week Global, pelo instituto de pesquisa Autonomy e por pesquisadores do Boston College e das universidades de Cambridge e Oxford, mostrou:
Trata-se de trabalhar quatro dias por semana sem ter o salário reduzido. O objetivo é oferecer bem-estar, qualidade de vida e melhorar a produtividade dos funcionários. E já tem empresas — no Brasil e em outros países — que adotaram o modelo de trabalho (entenda mais abaixo).
E não à toa. Cada vez mais as pessoas optam em trabalhar para empresas que oferecem flexibilidade. Uma pesquisa realizada pelo International Workplace Group (IWG), publicada em 2019, por exemplo, mostra que 83% dos profissionais são mais produtivos em uma rotina flexível.
O resultado de empresas que adotaram a semana mais curta de trabalho foi surpreendente: trabalhadores relataram que o bem-estar e o equilíbrio entre vida profissional e pessoal aumentaram. A produtividade, por sua vez, manteve em sua maioria a mesma e, em alguns casos, aumentou.
Além disso, segundo Marta Pimenta de Brito, professora e psicóloga especialista clínica e trabalho, outras vantagens são estresse reduzido, menor risco de burnout e mais tempo para ficar com a família.
“Também melhora os padrões de sono e tem mais tempo para praticar exercício físico. […] Na minha atividade clínica diária — com pacientes em que atendo no consultório e das empresas que acompanho —, noto que no dia a dia agitado que as pessoas têm vivido, elas sentem, muitas vezes, medo de parar. Muitos até têm medo do silêncio.”
Desta forma, a semana de quatro dias pode ser uma boa alternativa para o bem-estar das pessoas.
Além disso, reduzir a pegada de carbono das companhias e ser um atrativo para reter talentos, já que em tempos de Great Resignation tem se tornado um desafio para empresas.
Há o risco de acúmulo de horas nos dias trabalhados. Por exemplo, se o funcionário tem uma demanda grande de trabalho, será muito difícil que ele consiga se ajustar à semana de quatro dias. Por isso, é importante alinhar o volume de trabalho do profissional com o benefício oferecido. Outro ponto, segundo Marta, é não usar o dia livre para usar eletrônicos. “Coisas simples como apreciar a brisa do mar, os passarinhos ou convidar alguém para almoçar pode passar completamente despercebido se o foco for o smartphone”, diz ela.
Diversos países como Estados Unidos e algumas nações européias e da Ásia adotaram algum tipo de programa para incentivar a semana mais curta de trabalho.
Países como Nova Zelândia e Japão foram alguns dos pioneiros em estudar sobre a semana de quatro dias de trabalho. A Unilever, por exemplo, desde dezembro de 2020 testa a modalidade com cerca de 81 funcionários da Nova Zelândia.
“A iniciativa mostra a ambição da Unilever de melhorar o bem-estar tanto dos funcionários como da empresa. […] Nosso objetivo é medir o desempenho na produção, não no tempo de trabalho. Acreditamos que as velhas formas de trabalhar estão desatualizadas e não são mais adequadas", diz em comunicado Nick Bangs, diretor administrativo da Unilever Nova Zelândia.
A experiência, segundo Bangs, deve ter a duração de um ano e os colaboradores têm “autonomia e flexibilidade determinando quando e como trabalharão melhor dentro da nova estrutura.”
Na Microsoft Japão, os testes foram feitos em agosto de 2019. Funcionou assim: durante um mês, a companhia não tinha expediente às sextas-feiras. Para não sobrecarregar os demais dias da semana, as reuniões ficaram restritas a uma duração máxima de 30 minutos. Como resultado, a produtividade dos funcionários aumentou quase 40%. A movimentação aconteceu dentro de um cenário em que o Japão tem uma das horas de trabalho mais longas do mundo.
“Ao implementar novas práticas internas para promover a escolha da vida profissional, desafiamos todos os funcionários a trabalhar em um curto espaço de tempo, descansar e aprender bem para melhorar ainda mais a produtividade e a criatividade”, disse a empresa em nota.
No Brasil, antes mesmo do experimento oficial, a startup Crawly, fundada em 2017, já nasceu com a modalidade de semana de quatro dias de trabalho.
“Quando começamos, ainda não tinha como competir em termos de salário com grandes corporações. Então, decidimos inovar no modelo de trabalho. […] Já sabíamos, aliás, que o rendimento não cai, ao contrário, aumenta na jornada reduzida”, disse em entrevista à StartSe Thiago Veloso, head de marketing da empresa.
Na companhia, os funcionários não trabalham às sextas-feiras. “É um dia que as pessoas podem resolver as tarefas pessoais sem pressão”, diz ele. “Para a gente, é um baita diferencial competitivo no ato da contratação.”
“O feedback dos funcionários é positivo. Eles contam que têm mais qualidade de vida”. Para evitar o acúmulo de trabalho nos demais dias, os times têm reuniões diárias e semanais em que juntos estabelecem as demandas e as prioridades. “A gente usa muito a metodologia ágil”, afirma Veloso.
A Zee.Dog, empresa de produtos pet, também adotou a modalidade. “A gente decidiu trazer ao Brasil essa ideia de semana de trabalho reduzida, a qual nomeamos #NoWorkWednesday. Diferente dos japoneses, que prolongam o fim de semana com o day off, nossos funcionários tiram as quarta-feiras de folga. A ideia permite que cada um aqui se organize nos 4 dias para entregar suas tarefas”, diz a companhia em comunicado. A regra muda na semana com feriado.
Outra iniciativa é o feriado extra. Surgiu nos Estados Unidos, em Maryland, estado americano, em que propôs um novo programa de subsídios para empresas que adotarem a semana de trabalho de 4 dias.
O objetivo é incentivar a flexibilidade e proporcionar mais satisfação no trabalho – o que consequentemente aumentaria a produtividade das pessoas.
O projeto de lei mostra que o estado americano gastaria no total em crédito US$ 750 mil por ano durante 5 anos para ajudar as empresas a terem uma semana de trabalho de 4 dias. Além disso, eles vão gastar mais US$ 250 mil dólares para cuidar do programa.
A proposta de lei surge em um momento em que trabalhadores estão buscando manter um equilíbrio saudável entre suas vidas profissionais e pessoais, diante da atual situação de mudanças nos padrões do ambiente de trabalho (entenda mais adiante).
"Eu realmente acho que estamos à beira de um cenário ganha-ganha aqui. (...) Podemos oferecer maior qualidade de vida, mais tempo livre para os trabalhadores em Maryland e, ao mesmo tempo, não prejudicar os resultados das empresas e talvez até aumentar sua lucratividade”, diz Vaughn Stewart, um dos patrocinadores do projeto, ao Business Insider.
“De acordo com a legislação, a regra é de que a jornada seja de 8 horas diárias e 44 horas semanais. Mas nada impede que seja menor do que isso. A legislação só impede o que for maior, menor não”, diz Lucas Camargo, advogado trabalhista sênior do Pinheiro Neto.
O mesmo vale para a jornada parcial — que surgiu com a reforma trabalhista de 2017 — em que a carga horária de trabalho é de até 30 horas semanais sem possibilidade de hora extra ou 26 horas semanais, com até 6 horas extras pagas.
Isso significa que para a jornada parcial, a empresa pode liberar a semana de quatro dias, mas o profissional, em hipótese alguma, pode ultrapassar o limite de horas previstas no contrato. “Não pode ter hora extra além do que o regime permite”, diz Camargo.
Caso a empresa queira reduzir o salário proporcional a jornada de horas, Camargo diz que precisa fazer uma negociação com o sindicato. “Não é aconselhável e nem seguro fazer negociações individuais”, diz o especialista.
“Não. A empresa não precisa adotar a semana de quatro dias de trabalho para todos os funcionários. Nada impede que a companhia tenha regimes de trabalho específicos para funções diferentes. […] O cuidado que a empresa precisa ter é: se os colaboradores exercerem a mesma função, não pode liberar a semana de quatro dias de trabalho para alguns deles, e outros não. Mas para áreas e funções distintas é possível.”
Dica: O especialista aconselha que “a empresa precisa avaliar bem antes de implementar o benefício, pois, se feito, não pode ser alterado depois. Seria necessário, em tese, uma série de novas negociações com o sindicato.”
Uma pesquisa feita pelo Instituto Ipsos mostrou que apenas 3 em cada 10 brasileiros acreditam na semana de quatro dias de trabalho.
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Sabrina Bezerra, head de conteúdo na StartSe, possui mais de 13 anos de experiência em comunicação, com passagem por veículos como Pequenas Empresas & Grandes Negócios e Época Negócios, ambos da Editora Globo.
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